Domínios da linguagem
No interior da linguística, distinguem-se vários domínios segundo a natureza dos fatos estudados:
a) Tradicionalmente, consideram-se quatro domínios:
1º. A fonética estuda os sons da linguagem. Ela se separa hoje da fonologia, que estuda os fonemas (phonèmes), ou seja, os sons considerados como distintos.
A ortoépia determina as regras da pronúncia correta (bonne prononciation). Diz-se também ortofonia (orthophonie), mas esta palavra tende a ser mais específica do campo da medicina, pela reeducação dos que padecem de problemas de elocução.
2º. A lexicologia é a ciência das palavras. Ela estuda notadamente as suas origens (etimologia) e sua história, assim como em suas relações.
Às vezes, tem-se considerado a lexicografia como um sinônimo de lexicologia. Mas, atualmente, a lexicografia é a edição de repertórios de palavras.
3º. A morfologia estuda os morfemas, ou elementos variáveis nas palavras. Distinguem-se os morfemas gramaticais (grammaticaux), que são as desinências ou flexões: traços do gênero e do número nos adjetivos; traços do tempo, do modo, da pessoa, do número, nos verbos - e os morfemas lexicais (lexicaux): prefixos, sufixos etc.
Alguns traços gramaticais são exprimidos em francês, não pelas desinências (ou seja, as variações no final da palavra), mas por meio de outros processos: o radical pode sofrer modificações (suis, es, est, sommes, êtes, sont; je, me, moi; etc). O pronome pessoal opõe je mange (eu como) à il mange (ele come) e desempenha portanto o papel do morfema: do mesmo modo o artigo em le page e la page, respectivamente, o garoto e a página.
Observação: Em Pierre aime le chien (Pierre adora o cão), a função de Pierre e do cão são exprimidas por suas respectivas posições, enquanto que, se traduzida em latim, as desinências exprimiriam as funções (Canem amat Petrus). Dito de outro modo, um processo sintático corresponde em francês a um processo morfológico em latim. Os linguistas consideram a ordem das palavras como um morfema. Em razão das relações estreitas entre as formas e as funções, reúne-se frequentemente os dois domínios sob o nome de morfossintaxe.
A morfologia oral é diferente da morfologia escrita: mange, manges, mangent são homófonos
[mʒ]; do mesmo modo, muitos dos singulares e plurais:
femme, femmes; dos masculinos e dos femininos:
fier, fière (e
fiers, fières).
A sintaxe estuda as relações entre as palavras na frase: a ordem das palavras e a concordância são alguns fenômenos da sintaxe.
Uma frase se divide em grupos de palavras, os sintagmas, compostos de um elemento principal ou nuclear e de um ou de vários elementos subordinados, os quais podem também ser alguns sintagmas.
Na frase
Les petits ruisseaux font les grandes rivières, se distingue um sintagma nominal, cujo núcleo é um nome (
les petits RUISSEAUX), e um sintagma verbal, cujo núcleo é um verbo (
FONT les grandes rivières); este sintagma verbal compreende um verbo (
font) e um sintagma nominal (
les grandes RIVIÈRES).
b). Segundo as tendências mais modernas, distingue-se três domínios que consideram a linguagem segundo outros critérios que os estabelecidos acima.
1º. A semântica estuda a significação, o conteúdo da mensagem, o significado. Ela se distingue às vezes da semasiologia, que parte das palavras, do significante, para estudar a significação, - e da onomasiologia, que parte dos conceitos, dos significados, para perceber como a língua os exprime.
Como designar a cabeça (
la tête) em francês? Esta questão nos remete à onomasiologia - Qual é a significação da palavra cabeça (
tête)? Esta questão nos remete à semasiologia.
2º. A estilística estuda os fatos da língua do ponto de vista de sua expressividade.
O locutor tem frequentemente a escolha, para exprimir uma idéia, entre várias palavras ou processos que pertencem a alguns registros ou níveis diferentes (literário, corrente, familiar; popular etc) ou que exprimem este pensamento com algumas modalidades variáveis (de maneira neutra, pejorativa, positiva etc).
Por oposição à denotação, o conteúdo objetivo, neutro, da mensagem, chama-se conotação aquilo que a expressão reúne a este conteúdo objetivo: algumas palavras como
Nègre e
Noir (para designar um homem de raça negra) possuem a mesma denotação, mas são diferentes pela conotação.
3º. A pragmática estuda as relações entre o uso feito da língua e a situação (inclusive o papel de quem participa da comunicação).
Diz-se:
C'est Jean qui a cassé le carreau?, eu pressuponho que uma telha tem sido quebrada e que meu interlocutor o sabe. Ao pronunciar a frase:
Voudriez-vous fermer la porte? (gostarias de fechar a porta?) Eu não espero de meu interlocutor uma resposta (embora a frase esteja na forma interrogativa), mas um ato.
A sílaba
A sílaba é um conjunto de sons que se pronuncia por uma única emissão de sopro.
Ela pode ser formada, seja de um único som, que será então necessariamente uma vogal:
A-mi, É-tang, OU-bli, ENfant; - seja da combinação de uma vogal com uma ou várias consoantes, com uma ou várias semi-vogais:
traduire [tra-dɥir], hiatus [ja-tys].
Uma sílaba é aberta quando ela termina por uma vogal: Ba-n
al,
SEN-tir [s
ti
] - e ela é fechada quando termina por uma consoante: FER-mer, PIS-ton.
Na frase, o limite da sílaba não coincide necessariamente com aquele da palavra que se escreve. Com efeito, uma consoante final pronunciada forma sílaba com a palavra seguinte quando esta começa por uma vogal (exceto se há uma pausa):
Il aime [i-lεm]; isto é o fenômeno do encadeamento
(enchaînement). Do mesmo modo, isso acontece com a consoante final que não aparece diante de vogal: D
eux hommes [dø-zɔm]; isso é o fenômeno do
liaison.
Chama-se hiato
(hiatus) a sucessão de duas sílabas onde a primeira termina por uma vogal e a segunda começa por uma vogal:
po-ète, maïs.
A haplologia é o fato de que duas sílabas idênticas ou semelhantes reduzem-se a apenas uma. Ela se realiza frequentemente no discurso oral, sobretudo familiar.
Vogais abertas ou fechadas
Pela pronúncia das vogais, os maxilares podem ficar mais ou menos abertos, e a língua mais ou menos separada do paladar. Chama-se a isto abertura
(aperture) e distingue-se em quatro passos (ou graus): [i], [y], [u];
- [e], [ø], [o]; - [ɛ], [
œ], [ɔ]; - [a]. As vogais pertencentes aos dois primeiros graus são ditas
fechadas, e as segundas são ditas
abertas.
As vogais fechadas em posição final abrem-se, em muitos dos casos, se elas vierem seguidas de uma consoante, v.g., quando um adjetivo ou um nome são colocados no feminino, na conjugação dos verbos, etc:
Sot [
so],
sotte [
sɔt];
berger [-
e],
bergère [
ɛr];
je peux [
pø],
ils peuvent [
pœv];
j'ai [
ʒe],
ai-je [
ɛʒ]. Inversamente:
un œuf [
œf],
des œuf [
ø].
Fonética sintática
A fonética sintática estuda os fatos fonéticos relacionados ao contexto e, às vezes, o papel das palavras na frase. Dependendo do lugar das palavras na frase, elas terão pronúncias diferentes: por exemplo, o s de
plus (mais) é pronunciado quando se trata de um termo matemático:
Deux PLUS deux font quatre (dois mais dois fazem quatro). Por outro lado, o s é mudo quando
plus é o auxiliar da negação:
Je n'ai plus faim (não tenho mais fome).
O liaison
O liaison é o fato que uma consoante final, muda em um palavra tomada isoladamente, articula-se em um sintagma quando a palavra seguinte é uma vogal:
Les enfants sont arrivés sans encombre (por exemplo,
les enfants pronuncia-se
[le-zã-fã] justamente porque a palavra seguinte a
les começa por vogal).
Como se faz o liaison
a). A consoante do liaison é geralmente aquela que é representada na escrita ao fim da primeira palavra: trop aimable, petit homme.
Contudo, é necessário notar os seguintes fatos:
- as palavras que terminam por s ou x na escrita se ligam por z: pas à pas [pa-zapa], aux hommes [o-zɔm];
- aquelas que terminam por d na escrita se ligam por [t]: grand effort [grã-tɛfɔr], quand on voit [kã-tɔ];
- as palavras que terminam por g na escrita se ligam por [k] na língua tratada: un long effort [lɔ-kɛfɔr], suer sang et eau [sã-keo];
Quando se faz o liaison
Os liaisons geralmente considerados como obrigatórios são:
- entre o determinante e o adjetivo de um lado, e o nome e o adjetivo de outro lado: Les anées, aux armes, les autres mots, deux ans, ces arbres, tout âge, certains élèves, grand enfant, grands enfants, deux anciens soldats;
- entre o pronome pessoal conjunto ou on de um lado, e o verbo e os pronomes en, do outro lado, e inversamente: Nous avons, ils ont, elles arrivent, à vous en croire, ils y sont, elle nous entend, on ira; - dit-il, prend-elle, courons-y, cueilles-en, dirait-on, allez-vous-en;
- depois c'est e il est impessoal: C'est évident, c'est à voir, il est impossible, il est à penser que...
- depois dos advérbios, sobretudo monossilábicos, unidos estreitamente à palavra seguinte (advérbios de negação ou de grau): Pas aujourd'hui, plus ici, ne jamais oublier, tout entier, plus important, moins ardent, bien aise, assez ouvert, trop heureux.
- na maioria das palavras compostas de locuções: de mieux en mieux, de temps en temps, vis à vis, mot à mot, États-Unis;
A elisão
A elisão como fenômeno fonético
A elisão é o "emudecimento" (ammuïssement) de uma vogal final diante de uma palavra começada por uma vogal, a consoante que precede a vogal elidida forma sílaba com o início da palavra que segue:
a). a vogal elidida é um e [ə] na maioria dos casos: e esta elisão é constante, exceto quando há disjunção (h aspirado, etc).
Às vezes ela é marcada na escrita com um apóstrofo: De l'or. Parler D'abord. Je M'aperçois QU'il est venu; - e às vezes não: Un honnêtE homme [ɔnɛ-tɔm]. Je passE avant vous [pa-savã];
b) ao considerar unicamente a estrutura do francês moderno, as outras vogais que não e e a sofrem a elisão: O i da conjunção de subordinação si elide diante do pronome pessoal il ou ils.
Je ne sais S'il viendra. S'il viennent, ils trouveront à qui parler (Porém, SI elle vient, SI on vient, SI une femme vient).
No advérbio si (tão), o i nunca se elide: Il est SI adroit. (Ele é tão abilidoso).
A elisão na escrita
a). A elisão é sempre marcada na escrita:
1º. quando ela se refere às vogais a e i (la e si):
L'église. L'ancienne église. Cette femme, je l'estime. S'il pleut, je ne sors pas. Je ne sais s'ils partent.
2º. quando ela pertence a e nos monossílabos: me, te, se, le, que, de, ne, e em jusque:
Donne-M'en. T'es trompé. Elle S'aperçoit de son erreur. L'or. Je l'ai rencontré hier. La persone QU'il a vue. Il dit QU'il reviendra. QU'il est beau! Un verre D'eau. Je N'ai pas fini - JUSQU'à l'aube. JUSQU'ici.
b). A elisão nem sempre é marcada em ce, je, quelque, presque, quoique, lorsque, e puisque.
1º. Os pronomes sujeitos je e ce se escrevem j' e c' quando eles precedem o verbo, mas integralmente se eles vêm posteriormente a ele:
J'aime. C'est vrai - Suis-JE arrivé? [sɥi-ʒa-rive] - Est-ce achevé? [ɛ-sa-ʃve].
Outros fenômenos que se produzem diante de uma vogal
a). os determinantes possessivos femininos singulares ma, ta, sa, são substituídos por mon, ton, son, diante de uma palavra começada por uma vogal.
MON écharpe. TON aimable sœur (Porém: TA sœur. MA nouvelle écharpe);
b). o determinante demonstrativo masculino singular ce torna-se cet diante de uma palavra começada por uma vogal:
CET arbre. CET honnête commerçant (Porém: CE commerçant).
c). o advérbio toute diante de um adjetivo feminino toma a forma tout se este adjetivo começa por uma vogal:
La verité TOUT entière (Porém: La verité toute nue)
d). os adjetivos beau, nouveau, fou, mou, vieux
1). a regra é que estes adjetivos tomem diante de um nome masculino singular começados por uma vogal as formas bel, nouvel, fol, mol, (sobretudo literário), vieil.
Un BEL homme. Le NOUVEL an. Un VIEIL ami - CE mol atendrissement - Un MOL effort - Son FOL acharnement d'apôtre.
2). diante de et, o uso ordinário não admite bel senão nas expressões fixas bel et bon, locução adverbial, e Tout cela est bel et bon, equivalente mais ou menos a quoi qu'il en soit: Tout cela est BEL et bon, mais c'est enfantin. Fora destas locuções, se diz ordinariamente:
Un VIEUX et honnête fermier. Un BEAU et grand souvenir. Ce qui a été BEAU et bon. Il était plutôt MOU et flou.
A disjunção
Definição
Chamamos disjunção o fato de uma palavra começada foneticamente por uma vogal se comportar em relação às palavras que a precedem como se ela começasse por uma consoante. Isto quer dizer que nem a elisão nem o liaison podem ocorrer. A disjunção permite distinguir algumas homônimas na cadeia falada:
Le haut, l'eau; le hêtre, l'être; de haler, d'aller; je le hais, je l'ai
O caso mais comum é o do h dito aspirado.
Fonologia e Ortografia
Quando se compara os sistemas fonológico e ortográfico, constata-se que há poucas palavras cuja ortografia reproduz a pronúncia com precisão e economia (uma letra por som, e inversamente): ami, pour, macaroni.
1). uma letra pode representar sons diferentes conforme as palavras:
Em
rations, o
t equivalente a [t] se trata de uma forma do verbo
rater e o
t equivalente a [s] se trata do plural do nome
ration.
Para certas letras, pode-se estabelecer algumas regras. Por exemplo,
s equivale a [z] entre vogais e [s] em outros casos:
rose; servir; astro; porém há algumas exceções:
s se pronuncia [s] em
désuet, parasol, dysenterie, susurrer, présupposer, etc., e ele é, quase sempre, mudo no final.
2). uma letra representa um conjunto de sons (ou vários sons, segundo as palavras):
x = [ks] em
taxer; [gz] em examen; - do mesmo modo [z] em
dixième, [s] em
soixante, Bruxelles, Auxerre...
y = [ij] em
ennuyer
3). um som é exprimido por uma sequência de letras, grupos de duas letras ou digramas (ou dígrafo), grupos de três letras ou trigramas.
Às vezes o som pode também ser exprimido por uma única letra. É o caso dos digramas qu [k] (quand), que tem como concorrentes c e k - ph [f] (phobie), que tem como concorrente f; - au [o] (chaud) ou às vezes [ɔ] (Paul), que tem como concorrente o; - ai [ɛ] (laid) ou às vezes [e] (quai), que tem como concorrente è, é; etc. - Do mesmo modo, os trigramas eau [o] (beau), que tem como concorrente o; - ill [j] (tailler), que tem como concorrentes y (bayer), ï (païen).
Alguns digramas tornam-se concorrentes entre eles: en pode produzir [ɛ com tio] como em (examen) ou [ã] como an (lent). Alguns trigramas fazem concorrência a alguns digramas œu [cœur] a eu; ain (bain) e ein [sein] a in. Certos digramas têm vários valores: ch [ʃ] em chaud, k em orchestre. Certas sequências de letras às vezes têm alguns digramas e às vezes possuem um outro valor: gn = [ɲ] (agneau); ce = [s] em douceâtre e [sə] na palavra ce.
Os acentos
O acento agudo e o acento grave
a). Coloca-se o acento agudo e o acento grave sobre a letra e para indicar a pronúncia: é para [e], è para [ɛ].
1º Para as vogais tônicas, a oposição entre é e è é clara:
Blée, alée, prés; - père, sème, près
O È se utiliza apenas diante de um s final ou diante de uma sílaba contendo um e mudo: exprès, aloès, manière. - Escreve-se poignée, aimée, etc., pois e, não se pronunciando nessa posição, não constitui uma sílaba.
2º. Para as vogais átonas, onde a oposição fonética é mais clara, se tem princípio è quando a sílaba seguinte é formada de uma consoante e de um e mudo, e é no caso contrário: enlèvement, discrètement, il sèmera; - témoin, léser, téléphone.
3º Salvo diante de s final, não se coloca o acento agudo ou o acento grave sobre um e que não termina a sílaba gráfica:
ChEr, fErmer, dEscendre, tErrible, pEste, pErdre, gEmme, Effroi
Segundo uma tendência recente, deixa-se o acento nos prefixos dé- e pré- colocados diante de uma palavra começada por s + consoante: déstructurer, déstalinisation, préscolaire, etc. Do mesmo modo, em télé-: téléspectateur.
Escreve-se cèdre, écrire, régner porque as vogais terminam uma sílaba.
Não se coloca o acento sobre o e que precede x, pois foneticamente a sílaba termina por uma consoante: texte, examen, expert.
Não há acento sobre os determinantes ces, des, les, mes, ses, tes, os quais, sendo proclíticos, são tratados como átonos.
4º. Em uma sílaba aberta (ou seja, que termina por uma vogal), o som [e] se escreve é e não e: rÉvÉler.
Contrariamente a esta regra, as palavras recentes, tais como interação.
b). O acento grave se emprega também como sinal diacrítico, ou seja, para distinguir das homônimas.
1º. Sobre a: em à preposição, distinguido de a forma verbal; - là advérbio, distinguido de la artigo ou pronome pessoal; - çà advérbio, distinguido de ça pronome demonstrativo.
Sobre u em où marcando o lugar, para distinguir de ou conjunção de coordenação.
O acento circunflexo
1º. Ele permite hoje distinguir as palavras que sem ele seriam homógrafas.
Exs.: dû, particípio passado de devoir, e du, artigo contraído; rôder, errar, e roder, usar; sûr, certo e sur, ácido.
2º. Ele faz algumas indicações sobre a pronunciação.
Em particular, sobre as letras i e u, o acento circunflexo não representa por assim dizer qualquer papel na pronúncia (compare: coup e coût, coupe e coûte, goutte e goûte, ruche e bûche, chapitre e épître, nait e plaît).
3º. Em piqûre, o acento seria destinado a mostrar que não há o digrama qu = [k], mas dois sons, [ky].
O traço de união (
trait d'union)
Conceito: Sinal gráfico em forma de pequeno hífen, que se coloca principalmente entre os elementos de algumas palavras compostas ou entre o verbo e um pronome posposto. Por outro lado, embora o sinal gráfico do
trait d'union compartilhe alguma semelhança com o hífen, com ele não se confunde, pois o hífen é mais longo e tem outras funções.
Generalidades
a). o
trait d'union restabelece a unidade de uma palavra que o escritor tem dividido, seja por causa do espaço que ele deixa para escrever esta palavra completamente sobre uma linha, seja porque ele quer produzir um
débit haché, ou seja, aquelas frases cujas sílabas são separadas e fortemente acentuadas (
dont les syllabes sont détachées et fortement appuyées):
[...] en vociférant: << C'est for-mi-dable! >> (BEAUVOIR, tout compte fait, p. 95)
O traço de união para uma palavra
coupé, isto é, uma vogal simples transformada em ditongo, ao fim de uma linha é chamada divisão (division) pelos tipógrafos. As supressões (
coupures) devem respeitar as regras da silabação gráfica.
b). A função principal do traço de união é de constituir um conjunto de palavras em unidade, sobretudo para distinguir de outros conjuntos. Nós distinguimos as unidades lexicais e as unidades gramaticais.
c). Em uma descrição linguística, o traço de união se coloca antes ou depois dos elementos de formaçãodas palavras a fim de distinguir as palavras ordinárias:
O sufixo -ment, o prefixo pré-. Emprego análogo na coordenação: État de pré- ou infravie.
O traço de união sinal de unidade léxica
a). depois de uma mudança de categoria, principalmente nominalização:
- nominalização de um sintagma preposicional: l'après-midi, l'entre-voie, le sans-gêne, un sous-main.
- nominalização de outros tipos de sintagmas: un tête-à-tête, un trois mâts.
- transformação de frases: laissez-paisser e qu'en dira-t-on tornadas nomes; peut-être tornado advérbio; c'est-à-dire tornado conjunção de coordenação.
b). depois de uma mudança de significação
1º Metonímia: un cul-blanc (pássaro);
2º Metáfora tomada do conjunto do sintagma ou do composto:
eau-de-vie, œil-de-bœf, pied-de-biche, pot-de-vin;
3º Especialização dos sentidos: Advérbios:
avant-hier, après-demain, sur-le-champ. Conjunção:
c'est-à-dire. Nomes:
fer-blanc, amour-propre, eau-forte.
4º Derivação sobre um sintagma ou um composto:
de la fausse monnaie -->
un faux monnayeur;
long cours -->
long-courrier.
5º Adaptação de palavras estrangeiras:
franc-maçon, social-démocrate, bem como
tout-puissant, traduzida literalmente do latim.
c) devido a irregularidades morfológicas ou sintáticas (às vezes combinadas com fatos semânticos):
1º. Adjetivos.
- adjetivo formado de um pronome pessoal normalmente disjunto e de um particípio presente: soi-disant;
- locução adjetiva composta de um adjetivo com valor adverbial seguido de um adjetivo ou de um particípio: court-vêtu; long-jointé, demi-nu;
2º. Advérbios.
Ici-bas, là-bas, là-haut. Há também um traço de união quando là é seguido de um advérbio: lá-dedans, là-dessus, là-dessous, là-devant.
Là, ainda analisado como advérbio, não demanda o traço de união nos sintagmas par là ou de là, etc. De outro lado, ci, tendo cessado de se empregar livremente, é acompanhado de um traço de união nas locuções das quais ele pertence: não somente ci-dessous, mas também ci-joint; ci-inclus; ci-présent; ci-gît; de-ci; de-là; par-ci; par-là.
Não é fácil explicar porque as locuções adverbiais ou prepositivas formadas com au ou com par têm o traço de união, enquanto que aquelas cujo primeiro elemento é en não possuem: au-dessus, au-dedans, au-dehors, au-delà, au-devant; par-dedans, par-derrière, par-dessus, par-devant, par-delà etc.
O traço de união sinal de unidade gramatical
a) Entre o verbo e os pronomes conjuntos que o seguem e que formam com ele um único grupo fonético.
1º Pronome pessoal conjunto sujeito, assim como ce e on:
Dit-il. Dit-on. Est-ce vrai? Peut-être irai-je le voir.
Há um t final analógico, que se coloca entre traços de união. Quando os pronomes il, elle ou on são colocados depois do verbo, um t analógico escrito entre traços de união se intercala entre os verbos terminados por e, a ou c e o pronome sujeito. Isto acontece principalmente na frase interrogativa, na frase enunciativa começada por peut-être etc: Replica-t-il, Chante-t-elle? Peut-être va-t-on le voir. Vainc-t-il? Convainc-t-elle?
2º. Pronome pessoal conjunto complemento de um imperativo não negativo:
Crois-moi. Dites-lui de venir me voir. Prends-le avec précaution. Prends-en deux. Soyez-en sûr. Allons-y. - Do mesmo modo com vários pronomes: Dites-le-moi. Allez-vous-en. - Rendez-nous-les. - Tiens-le-toi pour dit.
Quando o imperativo é seguido de um infinitivo, é necessário prestar atenção ao fato de que o pronome pode estar ligado ao infinitivo, o que se constata ao comparar com a construção não imperativa:
Il Le fait faire --> Fais-LE faire. - Porém: Il veut ME suivre --> veuille ME suivre - Il ose LE dire --> Ose LE dire.
A vírgula na coordenação
a). A vírgula se emprega obrigatoriamente entre os termos coordenados sem conjunção (palavras, sintagmas, preposições):
b). A vírgula se coloca geralmente entre os elementos coordenados, exceto que nas conjunções et, ou, ni
A vírgula e os termos livres
Os termos livres são geralmente cercados de vírgulas (salvo se há uma outra pontuação). É o caso das palavras colocadas em apóstrofo, dos elementos incidentes e dos incisos, bem como dos termos redundantes.
Se o termo livre começa por uma vogal, e se é precedido de que, a elisão deste provoca o desaparecimento da vírgula:
J'avais annoncé qu'évidemment, si quelque jour les Yanquis croyaient avoir rattrapé leur retard [...]
O caso dos sintagmas intimamente associados
a). não se coloca a vírgula, em princípio (pois não há pausa), entre o sujeito e o predicado, entre o verbo e seus complementos essenciais, entre o verbo de ligação e o atributo, entre o nome ou o pronome e seus complementos nominais.
b). todavia, pode-se colocar uma vírgula entre o sujeito e o predicado:
1). depois do último termo de um sujeito formado por vários termos coordenados sem conjunção:
La pluie, la neige, la gelée, le soleil, devinrent ses ennemis ou ses complices.
Se o último sujeito substitui de algum modo os outros, o que se dá quando eles formam uma gradação ou quando são resumidos por uma palavra como tudo ou nada, este último sujeito não é separado do verbo pela vírgula.
Un souffle, une ombre, un rien le faisait trembler. - Et tout de suite, sac, couverture, chassepot, tout disparu.
O ponto e vírgula
O ponto e vírgula marca uma pausa de meia duração.
a). Assim, em uma frase, ele representa o papel de uma vírgula, por separar os elementos coordenados de uma certa extensão, sobretudo quando um de seus elementos já esteja subdividido:
Le acte de décès contiendra les prénoms, nom, âge, profession et domicilé de la personne décèdée; les prénoms et nom de l'autre époux, si la personne décédée était mariée ou veuve; les prénoms, noms, âge, profession et domicile des déclarants; et, s'il sont parents, leur degré de parenté (Code Civil, art. 79).